Vagão Alternativo – Liberdade Inexistente!

“O que é a liberdade, senão uma prisão confortável feita daquilo que pensamos realmente almejar?”

liberdade-inexistente-1.jpgExiste a probabilidade de se ganhar um presente em época de Natal, mas, independente da qualidade de tal apreço, de forma alguma ele será entregue pelo Sr. Noel…

Assim é a liberdade em sumo, ela existe pelo simples fato da fuga e, de modo algum é livre como seu teor literal diz ser.

Peço desculpas em antemão por destruir crenças e abarrotar diretrizes, mas tudo não passa de um enorme “conformismo inconformado” dentro do ser humano. Começando pelo livre arbítrio que, na verdade, não existe.

Todas as nossas vontades e decisões têm sua base na racionalidade premeditada por um emocional escondido, a própria Ética que deveria pressupor-se pela razão crua, oculta o sentimento na proposta de melhoria de uma convivência. Sendo assim, não existe separação lógica entre razão e emoção na cadeia de faculdades mentais que geram nossa racionalidade.

Deve estar se perguntando onde entra o livre arbítrio nessa história. Pois bem, seguindo a ideia de que uma escolha é feita com base no discernimento e no ato de ponderar a melhor diretriz, podemos supor que é de total manifesto racional, sendo a razão, a agente principal e absoluta do feito. Erro tolo. Você não tem como saber se realmente quer alguma coisa se nem ao menos existe uma base única de “quereres” aplicada em seu cérebro. É como um “Monte você mesmo”, é você quem vai montar, mas as peças já existem.

liberdade-inexistente-2Um ser humano adulto é composto por diversos segmentos embasados em suas vivências e o fator de como foi sua criação já nos abrange em torno de cinquenta por cento de seu previsível comportamento perante a sociedade e
seu modo de pensar que, embora não seja idêntico aos que dispuseram de mesma criação (mesmo que isso seja impossível), possui as mesmas vertentes em seu modo de encarar o mundo. Depois de sua infância, onde, obrigatoriamente, devem ter ocorrido traumas irremediáveis em vista subconsciente, estes por sua vez que são a base para diferenciar um ser humano do outro, conseqüentemente metade de uma vida já foi moldada, uma mente construída à base de costumes e alienações necessárias para ensinar como é a convivência em ponto de vista singular e como se deve adentrar ao mundo.

Pronto. Daí para frente todas as decisões terão sua fonte sentimental naquilo que lhe foi ensinado como valores humanos. E isso não pode ser chamado de razão se é proveniente de um “achar” em conjugação incerta e de escolha moldável, assaz maleável perante circunstâncias diversas.liberdade-inexistente-3

Bom… O reflexo da infância tem procedência na construção do caráter e no emocional do Ser, visto que na fase adulta, tal criatura humanoide provida de sua tão orgulhosa racionalidade, tenha passado por diversos fatores que lhe façam hoje, convicto de suas ações e reações, isso tudo não passa de remodelagem…

Não? Pois o primeiro homem de nossa cadeia evolutiva teve que colocar a mão no fogo para provar que tal queimava… Depois disso, existiram os que simplesmente acreditavam por ensinamento e os que tinham que queimar a mão para aprender. Mas, em ambas as divisões de comportamento, tal óbvio foi aprendido para se dizer hoje que é mesmo óbvio.

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Logo, quando escolhemos algo, optamos por uma diretriz ou mesmo apresentamos preferência por qualquer coisa, não temos como saber se realmente queremos isso. Visto que somos bombardeados por duvidosos incentivos subconscientes a cada minuto (conselhos, opiniões de terceiros, propagandas…) e ainda pelo fato de termos sido construídos à base de antepassados que também tiveram esse fado. Porventura de explanação, o subconsciente domina nossas ações impensadas, nossas egoístas ações impensadas… Não, não é como o cerebelo que cuida de funções motoras automáticas como respirar, mas imagine o subconsciente como um “inconsciente”, quando, você vai abrir a porta de casa com seu molho de chaves volumoso e, pronto, inexplicavelmente a primeira chave que já está virando é a exata, praticamente sem pensar, um desígnio feito a partir do tão costumeiro que essa ação se tornou. Mas o subconsciente é mais do que isso…

Sabe aquela mulher de quase trinta anos que tem dificuldade de se relacionar com as pessoas? Aquela, que chora fácil, se ofende fácil e não confia em homens para uma relação duradoura? Ela não sabe, mas o de presenciar seu pai chegando bêbado em casa quando era criança causou-lhe anfetaminas que foram guardadas no subconsciente para lhe acarretar este repugno, o fato dele ter esquecido seu aniversário de nove anos de idade numa festinha que ela havia convidado todos os seus amiguinhos da classe na escolinha e apareceram apenas dois… Isso tudo influencia em suas escolhas e sentires. “Impensadamente”.

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Certo. Voltemos para a questão da liberdade, enfim.

Entendendo que não existe o livre arbítrio e que todas as nossas vontades não passam de um espelho do que fomos criados para querer ou no que nos fazemos acreditar que queiramos, a liberdade não passa de uma eterna fuga do estado de incômodo que isso causa.

Liberdade de escolha, de expressão, liberdade financeira, independência vista como liberdade… Toda e qualquer forma de sentir-se livre não passa desta tal fuga do conformismo, porém, é ao mesmo tempo inconformado de conformar. Perante a Lei, estar livre é dispor de um convívio dentro da sociedade, mas neste âmbito, está-se preso às opções ditas racionais perante o sentimento de uma razão construída perante a vivência individual de cada um. Que no final das contas, é tediosamente previsível em escala de possibilidades quaisquer.

Coisa que é certa, é que nunca nos satisfazemos com nada. Sempre pensando que se tivermos mais seria melhor ou, se for diferente será melhor. Na verdade essa busca pela liberdade é um ciclo vicioso como a maioria de nossas anfetaminas ditas como razões. Pois, quando alguém atinge uma liberdade, há o contentamento, há a realização e, depois disso, a recente liberdade se torna a mais nova prisão da qual se busca fugir. Quando não, o almejado é tão intocável que, se conseguido, as perspectivas mudam, causando desapontamento seguido da eterna pergunta do que se fazer depois…

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Aprisionamo-nos à ideia de uma liberdade sem nem saber ao certo o que fazer com ela… Sem nem, ao menos, ela ser livre realmente.

Não passamos de meras máquinas feitas de carne programadas para viver.

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