O Homem de Preto – Parte 3

Tudo que Henry sentia era um misto inédito de frio e medo. Ainda parecia a ele que as mãos gélidas da Morte ainda tateavam seu corpo; como se os dedos ossudos fossem pequeninas aranhas mortais que corriam rente à sua pele, procurando qualquer ínfimo espaço para penetrar sua carne.

Em sua mão, a vela apagada estranhamente aquecia ao menos um pouco a sua mão, fazendo com que pelo menos uma pequenina parte da sua alma encontrasse algo que lembrava conforto. Sem alternativas e desesperado, Henry olhava para a porta com uma sensação horrenda de medo. Ele sabia que a porta pela qual entrara estava inacessível, e a Morte continuava a compelí-lo para a frente por algum motivo.

Chacoalhando a cabeça tentando recompor a sanidade, Henry decidiu que passar pela porta era o melhor caminho. Com um passo cuidadoso ele atravessou o portal escuro e instantaneamente a vela que segurava se acendeu. Xingamentos impronunciáveis passaram pela sua mente enquanto se recuperava do susto. Quando ergueu os olhos para o cômodo, imediatamente fortes luzes se acenderam, obrigando-o a fechar os olhos.

Abrindo-os, vislumbrou onde se encontrava: uma sala circular, de teto alto e abobadado, todo ornamentado com paredes texturizadas em um vermelho escuro. Com medo do monstro de sangue reaparecer, Henry tratou de movimentar-se pelo quarto. Henry não localizou nenhuma porta, e isso deixou-o apreensivo. Ele suava frio, e tentava entender o que estava fazendo ali, segurando firmemente a vela em sua mão. Henry andou por toda a extensão do quarto, tocando as paredes (que lembravam algo como uma textura rústica e ondulada) e o chão.

Eis que subitamente Henry sente um tremor… e o quarto começa a ser inundado. Henry não conseguia ver de onde, mas águas velozmente preenchiam o ambiente. Em pouco tempo, a água cobria sua canela e para o desespero do visitante se aproximava cada vez mais rápido dos seus joelhos. Henry correu para a parede mais próxima e começou a esmurrá-la, gritando:

– SOCORRO! ALGUÉM! POR FAVOR!

Porém, não havia resposta; nem mesmo da Morte. Logo, a água estava próxima a seu pescoço e Henry começou a flutuar. A água tinha uma força tremenda, e girava e empurrava o visitante sem piedade. Henry engolia água e afundava constantemente, mas lutava como podia para tentar se salvar. Já não conseguia entender direito onde estava, e sua confusão só aumentava,

Conforme a sala enchia d’água, mais Henry subia, e em sua mente calculava quanto tempo ainda teria para respirar. Seu desespero era monstruoso. Sua mente pedia por salvação e sua alma era agonia. Entretanto, ao olhar para cima em uma respirada funda, Henry viu algo: uma abertura no centro da abóbada.

“MINHA SALVAÇÃO!”

Henry então tratou de nadar como pôde para o centro da sala, gastando ali suas últimas energias. Conforme a água ia subindo, o visitante apertou mais a vela (que ainda segurava) e fechou seus olhos, esperando o que quer que acontecesse.

Finalmente, a água que subia empurrou Henry para a abertura e o lançou para cima;

E então ele começou a cair…

A inversão de gravidade imediatamente fez a cabeça de Henry dar um nó terrível. Antes, ele subia junto com a água. Porém, ao atravessar a abóbada, sentia como se caísse. Contudo, tal sentimento não durou muito. Logo Henry sentiu uma forte pancada e, de olhos fechados, sentiu-se deitado em uma superfície fria e lisa.

Por alguns momentos permitiu-se respirar e descansar, e notou que a vela ainda estava em sua mão. Reunindo coragem, Henry abriu seus olhos. Estava em um ambiente totalmente branco e sua superfície, ao toque, era ligeiramente fria. Graças talvez à cor do ambiente, não conseguia distinguir chão, paredes, teto, aberturas e nem mesmo por onde entrara. Reconhecia apenas o chão onde pisava, e mesmo ele as vezes lhe parecia falhar.

A mente de Henry era torcida e tolhida de sangue. Sua capacidade mental esforçava-se para compreender o que se passava, e a cada acontecimento parecia que tudo que conhecia por realidade era destruído e remontado em uma nova concepção.

Olhando para a vela, viu que a mesma ainda estava acesa, e era a única fonte de calor nas imediações. Henry apertava-a com força, como se dependesse verdadeiramente dela. Talvez ela fosse a única razão de sua sanidade ainda estar relativamente inteira, ele pensava.

“OK Morte, qual é o seu joguinho?”

Decidido a não ceder, Henry começou a caminhar, porém não conseguia definir uma direção. Todos os lados lhe pareciam iguais. Definiu então um método: pôs a vela no chão, girou-a e andou 100 passos naquela direção. Depois, repetiria o processo.

“Se todos os lados são iguais, vamos criar a desordem”.

O tempo passava (ao menos Henry imaginava que passava) e o visitante caminhava sem rumo definido. Sua mente exausta apenas tratou de seguir seu próprio processo e nada mais.

“24,25,26,27,28,29,30,31,32,33…”

BAMP

Henry sentiu um impacto e caiu. Sua testa doía e ele estava tonto. Recuperando-se, se ergueu e tentou visualizar no que batera. Em sua frente, finalmente estava uma parede e nela diversas inscrições. Porém, Henry não as conhecia. Algumas pareciam não ter lógica nenhuma, constituindo-se de linhas e formas aleatórias (pelo menos para o visitante). Outras pareciam querer dizer algo similar talvez a uma letra ou um objeto, mas nada distinguível claramente. Tais inscrições seguiam horizontalmente pela parede branca, dando a Henry uma direção a seguir. Contudo, agora um novo medo o adentrava: quem teria feito tais marcas?

 

Por Gabriel Reihner 

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