No Divã dos Personagens – Sr. Fredricksen
Oi gente!
Como vocês estão? 🙂
Hoje vou escrever sobre o Sr Fredricksen! Tem velhinho mais fofo e rabugento na história do cinema? rs
Primeiro, vamos lembrar como é a história? (Mas só a parte dele, tá? Esse vai ser praticamente sem nenhum spoiler, já que tudo isso acontece no comecinho):
“Carl Fredricksen é um vendedor de balões que, aos 78 anos, está prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, a falecida Ellie.
O terreno onde a casa fica localizada interessa a um empresário, que deseja construir no local um edifício. Após um incidente em que acerta um homem com sua bengala, Carl é considerado uma ameaça pública e forçado a ser internado em um asilo. Para evitar que isto aconteça, ele enche milhares de balões em sua casa, fazendo com que ela levante voo. O objetivo de Carl é viajar para uma floresta na América do Sul, um local onde ele e Ellie sempre desejaram morar. ”
Quero aqui, hoje, explicar para vocês como funciona o apego entre a pessoa e o lugar.
Todos nós temos sentimentos pelo lugar em que vivemos.
Quantas vezes nos deparamos com pessoas que vivem em situação de risco, mas que se recusam a abandonar suas casas? Isso a psicologia ambiental explica, e se chama identidade de lugar.
Isso acontece desde a infância e se baseia na relação afetiva que temos com os lugares. A criança começa a se sentir pertencente àquele Mundo, que é o quarto onde dorme, o local onde tem seus brinquedos, sua família, seus amigos, FELICIDADE.
No caso do Sr. Fredricksen, ele criou um apego forte pela sua casa, que foi onde ele viveu com sua falecida esposa. Ao ter o seu lugar “invadido” e a possibilidade de perde-lo, de forma inconsciente, acredita que também perderia as suas memórias com sua esposa, para ele, ela ainda estava lá, suas memórias estavam lá, e somente lá, e, nós bem sabemos, o quanto algumas coisas de entes queridos já falecidos ou distantes se tornam objetos intocáveis, pela questão da memória afetiva que temos.
A identidade de lugar está relacionada ao apego, onde é observado um sentimento de bem-estar ao viver nesse lugar ou sentimento de perda quando se é obrigado a deixa-lo. É exatamente esse sentimento de perda que o Sr. Fredricksen não quer nem pensar em sentir.
Ou melhor, só de imaginar-se fora de sua casa, ele já tem o sentimento, muito provavelmente, pelo que pude observar no filme, o mesmo sentimento de quando a sua esposa faleceu.
Ele fez algo que, bem, é impossível, que é levar sua casa “embora”, junto com ele, mas podemos observar no filme o quanto, com o passar do tempo, e suapercepção em determinado momento que algo seria mais importante do que a casa, os móveis, que ele a deixa.
É algo tão comum, todos nós podemos passar por isso.
Com idosos, a relação de memórias com o seu lugar é mais forte, o desapego é mais difícil, por isso vemos muitas vezes também, idosos não querendo sair de suas casas, mesmo que precisem morar com algum familiar por questão de saúde.
É isso que eu queria mostra pra vocês hoje, como essa relação se dá!
Quem sabe um dia, daqui uns anos, a gente não tá passando por algo como o Sr. Fredricksen? 🙂
Ah, vale ressaltar, que a história do Sr. Fredricksen foi inspirada em uma história real, olha ela aqui:
“Seu nome era Edith Macefield e ela nasceu em Oregon em 1921. Ainda muito jovem, aprendeu francês e alemão e se mudou para a Inglaterra. Contava sobre si mesma que havia sido espiã britânica na Alemanha, que havia escapado do campo de concentração de Dachau e que aprendeu a tocar clarinete graças ao seu primo, o legendário músico de jazz Benny Goodman.
Ao acabar a 2ª Guerra Mundial, ela permaneceu na Inglaterra, atendendo órfãos de guerra. Tornou-se especialista em ópera e grande fã de Sinatra e Greta Garbo. Sua vida continuava sendo divertida e louca até que, em 1965, sua mãe ficou gravemente doente e ela voltou aos Estados Unidos para acompanhá-la. Sua mãe morava em uma casa de Seattle e lá morreu poucos anos depois. Para conservar sua lembrança, ela decidiu ficar morando lá. Para sempre.
Pensando em sua mãe, em 1994, escreveu e editou com um pseudônimo um romance de 1.138 páginas, intitulado “Where Yesterday Began”. Em sua introdução, dizia: “Esta história é para todos aqueles que alguma vez amaram verdadeiramente, profundamente, irremediavelmente, inclusive em meio a um desastre. Para alguns, o amor simplesmente morre e cada um segue o seu caminho. Mas para outros, o amor é tão duradouro quanto o tempo, apesar das impossibilidades, da separação, da solidão segura”.
E aqui começa a nossa história…
No início de 2006, quando ela tinha 85 anos, um homem chamado Barry Martin se incorporou ao seu novo emprego como gerente de construção de um luxuoso centro comercial na cidade de Seattle.
Os promotores haviam conseguido comprar todos os lotes, exceto a casa de Edith. Portanto, a primeira missão de Barry foi convencer a idosa a vendê-la.
Ela imaginou que a via diplomática seria a melhor: “Bom dia, Sra.Macefield – começou Barry. Eu só vim avisá-la que hoje faremos muito barulho na construção. Se a senhora tiver qualquer problema, este é o meu telefone”.
Edith aceitou o cartão e, poucos dias depois telefonou para Barry para pedir-lhe… que a levasse ao cabeleireiro. “Eu já não consigo dirigir meu velho Chevrolet Cavalier”, desculpou-se Edith. E assim começou uma grande amizade.
Quando Barry lhe perguntou por que ela não queria vender sua casa, apesar de terem lhe oferecido um milhão de dólares e uma casa em outro bairro de Seattle, Edith respondeu: “Eu não quero me mudar. Não preciso do dinheiro. O dinheiro não significa nada para mim. Esta é a minha casa. Minha mãe morreu aqui, neste sofá. Eu voltei da Inglaterra para os Estados Unidos para cuidar dela. Ela me fez prometer que eu a deixaria morrer em casa, e não em um asilo. Cumpri minha promessa e é aqui onde quero morrer também, na minha própria casa, neste sofá”.
A história de Edith e da sua rejeição à generosa oferta foi divulgada pela imprensa e chegou aos ouvidos dos responsáveis da produtora Pixar.
A consequência foi “Up: altas aventuras“, uma maravilhosa história de amor na qual um homem decide honrar a lembrança de sua esposa salvando a casa em que viveram tantos anos de felicidade.
O filme estreou em 2009, mas Edith não pôde assisti-lo, porque um câncer no pâncreas acabou com a sua vida em 15 de junho de 2008. Barry cuidou dela até o final.
E o que aconteceu com a casa? Quem a herdou foi Barry, que, ao invés de oferecê-la aos seus antigos chefes, decidiu manter a lembrança da sua corajosa amiga e vendê-la a uma pessoa que se comprometeu a conservá-la como Edith a deixou. ”
Espero que tenham gostado!
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Fico muito feliz quando tem mensagens de vocês!
Beijinhos :**
Gostei demais desse texto, meus parabéns! Textos cada dia melhores. 🙂