Elevador
Eu caminhava pelos corredores ao lado de 0712, já no fim de minha ronda. Nossas brancas e límpidas armaduras de Stormtroopers criavam o único som capaz de ser ouvido ali. Por respeito às normas, evitávamos conversar e nem mesmo sabíamos o verdadeiro nome um do outro. Entretanto, eu já estava achando aquilo massante. Já havíamos repetido aquela rotina invariavelmente durante meses, e nada nunca havia acontecido. Decidi que deveria tomar uma atitude.
Marchamos pelos retos caminhos da estação espacial, sendo iluminados pelas luzes brancas e ocasionalmente vermelhas que estavam acopladas às paredes e por fim chegamos juntos ao elevador que nos separava. Eu entraria nele e 0712 seguiria por um corredor daquele mesmo andar. Ao parar em frente à porta de metal fechada, questionei meu companheiro:
-E então ‘712, de onde você veio?
Por um segundo ele pareceu levemente atônito (se é que uma máscara de metal branca permite demonstrar tal emoção) e estava começando a formular uma resposta. Entretanto, subitamente ele empertigou-se em uma rápida posição de sentido e fez uma saudação. Não entendi de imediato o que estava acontecendo e disse:
– O que você está fazendo?
Não precisei de resposta.
Antes mesmo de ver o que vinha, chegou até mim o som de sua pesada e mecânica respiração. Ela era vagarosa e ao mesmo tempo desesperada, como se um asmático em crise fosse visto em câmera lenta. e, ao fundo, o som robótico de seus aparelhos de auxílio de vida completavam a sinistra sinfonia.
Ao perceber isso, e tentando lidar com o pânico que crescia, assumi também uma posição de sentido e aguardei. Lorde Vader, o sombrio enviado do Imperador passou por entre nós em direção ao elevador, e por um segundo temi que minhas tripas saíssem de meu corpo.
Vader adentrou o elevador sozinho (o que era incomum já que andava sempre acompanhado de seu séquito de soldados de elite) e parou olhando para nós. Com um sinal de saída, 0712 virou-se e foi em direção ao seu dormitório, deixando-me sozinho com aquela coisa.
Ali estava uma decisão: eu poderia esperar o elevador ir embora e aguardar outro, ou ir junto com o homem (homem?) de armadura negra. Ele me dava medo, muito medo, mas algo me dizia que se eu deixasse esse medo transparecer e não entrasse naquele elevador, uma coisa horrível aconteceria.
Contrariando todas as ordens de meu corpo, marchei para dentro daquela caixa de metal e posicionei-me ao lado dele. Então, as portas se fecharam e o elevador começou a descer. Nesse momento, minha racionalidade voltou e o pânico me atingiu em cheio.
Eu havia ouvido as histórias. Diziam que Lorde Vader havia matado todo um esquadrão de Troopers apenas por terem se prostrado errado ante sua presença. Também falavam que ele havia estrangulado oficiais magicamente até a morte usando apenas uma mão no ar. Outros afirmavam que ele era plenamente capaz de desviar de tiros de blaster, e que um de seus hobbys era matar soldados que julgava incompetentes.
Eu suava frio em minha armadura, enquanto tentava manter a postura ereta e o olhar fixo. De soslaio tentei olhar para Vader com o canto, mas a única coisa que vi foi sua mão se fechando enquanto seu olhar penetrava minha alma. “Ele não pode ver através do meu capacete”, pensei…
Por nervosismo, talvez, comecei a sentir minha garganta se fechando, e comecei a tentar pigarrear da forma mais baixa que consegui. Apesar do ruído mínimo eu tinha certeza que para Vader eu parecia uma tartaruga asmática.
Provavelmente pelo medo por minha vida, em minha mente começaram a passar flashes de memória: minha infância pobre, meu casamento feliz, meus dois filhos, a dificuldade financeira, o alistamento no exército imperial…
Lentamente senti o incomodo da garganta passar e minha respiração voltar ao normal. Me aprumei no elevador e suas portas se abriram, permitindo que eu e Vader saíssemos dele. Fiz uma continência para o Lorde, ainda tremendo levemente, e fui em direção ao meu dormitório. Por algum motivo eu estava com uma vontade gigantesca e incessante de abraçar minha família…
Gabriel Reinehr